Padecendo no paraíso do pós-parto

Depois de 9 meses de expectativas e ansiedade, a mãe espera pelo tão sonhado momento de conhecer o filho e se sentir no paraíso. Mas antes de chegar ao paraíso tem um pouco, ou muita, dor e uma enxurrada de hormônios. Progesterona, prolactina, estrógeno, ocitocina, HCG, e por aí vai a lista de hormônios que sofrem alteração no pós-parto e transformam o paraíso, que deveria ser a maternidade, em um padecimento.

Essa alteração hormonal causa, na maioria das mulheres, uma grande bagunça nas emoções, o chamado Baby Blue. Trata-se de uma melancolia, sentimento de tristeza e desânimo. Costuma começar três dias depois do parto, o que coincide com a volta para casa. Chega ao ápice lá por volta do sétimo dia, começa a diminuir depois de dez dias e quase não existi quando o bebê completa um mês.

Esse não deveria ser um momento de alegria, de se sentir no paraíso? É o que muitos dizem. E, por isso as mulheres se sentem culpadas por estarem tristes, o que piora a situação. Além de tudo o que está acontecendo, a mulher tem que lidar com a culpa de não estar se sentindo radiante como ela gostaria e como as pessoas ao seu reder dizem que ela deveria se sentir. Quanto maior a expectativa de ser uma mãe perfeita maior a culpa.

Algumas puérperas - aquela que deu a luz há pouco tempo -, por causa da culpa, se obrigam a se dedicarem mais ao filho, mesmo não sentindo motivação e acabam por se sentirem mais irritadas ainda. Essa irritação pode ser percebida pelo bebê e ter consequências no desenvolvimento afetivo dele. A sobrecarga também é capaz de diminuir a produção de leite.

A melhor coisa a se fazer nesse momento é pedir ajuda e se abrir com as pessoas mais próximas. Desabafar e chorar sem remorso é uma estratégia muito útil. E, para o bebê será muito melhor ser cuidado por outra pessoa mais calma até que você tenha melhores condições e os dois possam desfrutar do incrível vínculo mãe-bebê sem interferências.

Quanto ao desânimo, imagine você ficar desanimado quando tem muito, mas muito trabalho para fazer, 24 horas por dia.

Não são apenas os hormônios que intimidam a alegria desse momento tão especial. Também tem a dor. O corte da cesárea ou da episiotomia doem. As contrações do útero doem. Os seios, quase sempre, doem. Tem também um tanto de dor emocional. Ainda tem o cansaço.

Um bebê recém-nascido exige muito cuidado e pouco sono. O corpo 'direciona' seus recursos para a produção do leite e o sangramento é intenso nos primeiros dias depois do parto, fazendo com que a mulher se sinta mais cansada do que o normal. E, não podemos esquecer das visitas em casa.

Tem também o fato de que até então a grávida era super paparicada, o centro das atenções, e agora toda a atenção e paparico são direcionados para o bebê. A mulher perde seu status de especial de uma hora para outra.

Com tudo isso, a maternidade no pós-parto acaba não sendo o paraíso que se esperava. Mas, pode ter coisa pior. Pessoas, dando palpite quando não são chamadas, fazendo cobranças para a mãe e colocando defeito na forma como o bebê está sendo cuidado. Tem até comentário sofre a forma física da mãe!

Não tem saúde emocional que dê conta. Então, é normal a mulher chorar, ficar triste, desanimada e irritada. Ela e todos ao seu redor devem estar preparados para isso.

Se você é, ou será, a puérpera, relaxe! Não se sinta mal por não estar radiante com seu bebê. Essa melancolia logo passará e você vai poder aproveitar a maternidade com muito mais alegria.

E, se você é alguém próximo a puérpera (parente, companheiro(a), amigo, etc.), não julgue, apenas dê apoio e ofereça seu ombro para ela chorar. De atenção. Se for visitar, avise com antecedência, pergunte qual o melhor horário e não demore na visita.

Não esqueça, toda ajuda é bem vinda. A puérpera deve cuidar do bebê e repousar apenas. Ela precisará de alguém para cuidar da casa, das roupas, e de todas as outras coisas. Se você puder, ajude.

Mesmo com essas dificuldades, ter um bebê é uma delícia, é algo mágico, é, sim, motivo de muita felicidade. O "baby blue" é uma fase passageira. Não queremos assustar ninguém, e sim preparar as mulheres para enfrentar esse momento da melhor maneira possível.

O "baby blue" é um processo emocional e fisiológico que acomete a maioria das puérperas. Porém passa logo que a mãe se adapta a nova rotina e os hormônios “voltam ao seus lugares”. É um período de transição, do corpo e das emoções. Na grande maioria dos casos, é rápido e não deixa sequelas. Mas, enquanto continuar sendo tratado como um tabu, fará mulheres sofrerem mais do que o necessário.

Os sintomas tendem a diminuírem quase que por completo por volta de 40 dias depois do parto. Procure ajuda profissional se isso não acontecer, ou se achar que os sintomas estão muito intensos a ponto do seu padecer ser muito grande e você não conseguir reconhecer que, apesar e estar padecendo, está no paraíso.

Se precisar de ajuda fale com o seu obstetra. Psiquiatras e psicólogos também podem ajudar.