Depressão – saúde, economia e cultura

A depressão é caracterizada pelo DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) como um transtorno com sintomas muito variados entre as pessoas. Para ser diagnosticada como depressão a pessoa deve apresentar por pelo menos 2 semanas 5 (ou mais) dos sintomas a seguir, incluindo necessariamente os 2 primeiros:

  • Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito);
  • Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades;
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias;
  • Insônia ou hipersonia quase todos os dias;
  • Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);
  • Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
  • Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não meramente auto recriminação ou culpa por estar doente);
  • Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros);
  • Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou em seu site que a depressão afeta 121 milhões de pessoas em todo o mundo e que 850.000 se suicidam todo ano por causa da depressão.
Segundo a OMS tratamentos psicológicos e psiquiátricos são bem sucedidos em 60 a 80% dos casos. Nos países desenvolvidos cerca de 25% das pessoas recebem um tratamento adequado, enquanto que nos países de baixa renda apenas 10% das pessoas acometidas de depressão chegam a receber tratamento de qualidade.
Entre os prejuízos ocasionados por esse transtorno de alta incidência a OMS aponta produtividade econômica como um fator relevante.
Afinal, pessoas com depressão são afastadas do trabalho ou rendem muito menos do que seu potencial permite e, fora do trabalho, diminuem seu consumo.
Pode parecer estranho falarmos de economia quando o assunto é depressão, sofrimento humano e subjetividade. Mas, esse não deveria ser um argumento relevante para termos um serviço de saúde mental acessível à população de um país que quer ser desenvolvido?
Ainda, aqueles que acham que tratamentos psicológicos e psiquiátricos são futilidades e gastos desnecessários poderiam começar a pensar que a empresa em que trabalham poderá lucrar mais se as pessoas tratarem o seu sofrimento, consequentemente, poderá receber um aumento de salário ou ser promovido de cargo.
Poderíamos dar muitos outros exemplos de como a prevalência da depressão pode afetar o cotidiano de todos nós, mas acho que apenas esse já é suficiente para refletirmos.
Se olharmos com mais cuidado para o impacto econômica da depressão podemos, muito provavelmente, mudar a paradigma social da depressão.
Na cultura brasileira a depressão tende a ser banalizada. Seja pelo descrédito na veracidade das doenças mentais, ou pela idealização de que temos que estar sempre felizes e não temos o direito de sentir tristeza. Assim, encaramos qualquer tristeza como algo patológico e não como uma sensação inevitável e inerente a vida humana moderna.
Ficar triste, chorar e ficar desanimado por alguns dias após o término de um relacionamento, a morte de um ente querido ou uma frustração na vida profissional é um fato normal e muito comum e não depressão.
A maioria das pessoas faz parte de um dos dois grupos mais comuns atualmente: O primeiro é aquele que está condicionado pela cultura de super otimismo, temos que estar feliz o tempo todo e se, por qualquer motivo, ficar triste já acha que está doente. No pior dos casos, vai logo tomando medicamento para ficar feliz, muitas vezes sem prescrição médica.
O segundo é aquele que não aceita sua condição humana considerando que sentimentos são “coisas para fracos” e não se dão a direito de fraquejar. Repudiam qualquer tratamento mental e, uma vez acometido por transtornos psicológicos, recusam ajuda, aumentando os índices de depressão profunda e de suicídios.
Depressão é problema de saúde com causas biopsicossocial e afeta todas as áreas de nossas vidas, incluindo a economia do país. Não podemos fechar os olhos para esse problema. Tanto quanto não podemos nos negar o direito de nos sentirmos triste, o que é saudável e importante para nosso desenvolvimento pessoal.